Era uma vez um mundo onde as redes sociais imperavam e os filtros de imagens eram tão comuns quanto beber refrigerante.
Nesse mundo, havia uma legião de jovens mulheres que transformavam suas fotos do Instagram em verdadeiras obras de arte. Em qualquer atividade diária que fosse, lá estavam elas registrando os momentos com seus smartphones de última geração e postando as fotos nas redes, exibindo suas peles radiantemente plásticas, seus olhos brilhantes como estrelas, seus sorrisos que poderiam derreter até o coração de um robô e os dentes tão brancos capazes de fazer a neve se sentir envergonhada.
Merielen, uma dessas lindas mulheres “instagramáveis”, era mestra no uso de filtros digitais. Seu feed era um desfile sem fim de beleza estonteante, um verdadeiro show de vislumbre. Homens de todos os cantos da rede se encantavam por suas imagens, e lotavam seus posts com comentários elogiosos e sua DM com mensagens mais, digamos, ousadas.
Eventualmente, Merielen, se permitia a um encontro pessoal com alguns desses pretendentes. Um, não, vários. No entanto, algo estranho sempre acontecia após o encerramento desses encontros no mundo real. Após o primeiro encontro, os pretendentes sempre desapareciam como mágica, não retornando mais os contatos.
Merielen estava perplexa. Ela não conseguia entender. “Será que sou muito exigente?”, perguntava-se, enquanto ajustava mais um filtro para postar a foto do café onde acabara de ser abandonada.
Mas o fato era que Merielen, obcecada por alcançar a beleza perfeita, não era capaz de perceber que, pessoalmente, e longe dos filtros virtuais, ela não era aquela figura estonteante que se apresentava nas redes. Era uma mulher normal. Bonita, mas normal.
Merielen tentou mais vezes e, mesmo encarando mais uma série de encontros fracassados, se recusava a perceber que os filtros eram o problema. “Ai, não fazem mais homens como antigamente…”, murmurava ela, enquanto ajustava um filtro ainda mais intenso para sua próxima foto.
A moça, então, começou a mergulhar cada vez mais no mundo virtual, um lugar onde ela dominava e podia aperfeiçoar a realidade ao seu bel-prazer. Seus filtros foram se tornando cada vez mais sofisticados e deixando-a quase irreconhecível, até chegar ao ponto em que ela começou a se perder entre a pessoa que era e a que aparentava.
Os anos se passaram e Merielen acabou se tornando uma eremita digital. Vivia em um apartamento repleto de fotos e telas para todo lado, cada uma mostrando uma versão filtrada dela mesma. Sua vida social se resumia a um feed infinito de likes e comentários em posts no Instagram. Mas nenhum encontro real.
Ela se convencera de que a felicidade estava na perfeição digital, e não na imperfeição humana.
Mas não compreendeu que, em um mundo onde a realidade pode ser criada e editada, a verdadeira solidão reside não na ausência de pessoas, mas na ausência de autenticidade.
Merielen, em sua busca por um ideal imaginário, acabou se isolando daquilo que poderia realmente lhe trazer conexão: a aceitação de si mesma, sem filtros.
*Texto & Arte: W. Riga
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W. Riga é escritor, artista visual e produtor de conteúdo.
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